Congresso ANEC

Na 2ª mesa-redonda do primeiro dia do VII Congresso Nacional de Educação Católica,  intitulada “Governança de instituições católicas para um futuro promissor: transparência, responsabilidade, sustentabilidade e autonomia”, Geani Moller e Jorge Siarcos discutiram os desafios e os caminhos para aprimorar a governança em instituições católicas, com foco na garantia de sua continuidade, relevância e coerência com a missão evangelizadora. O debate girou em torno de eixos fundamentais para o presente e o futuro dessas instituições: transparência, responsabilidade, sustentabilidade e autonomia.

Geani Moller, consultora, gestora e professora universitária com três décadas de atuação, iniciou o debate compartilhando a sua experiência ao destacar como os pilares da governança — como transparência, equidade e sustentabilidade — podem e devem ser integrados à identidade cristã das instituições. Ela defendeu que os princípios técnicos da boa gestão precisam caminhar junto aos valores evangélicos, assegurando que as decisões estratégicas estejam sempre alinhadas à missão institucional.

Para Geani, a corresponsabilidade entre leigos e religiosos é um elemento essencial na construção de uma governança sólida, ética e transparente. Em sua exposição, destacou que os modelos de governança precisam considerar a complexidade das instituições confessionais e que “governança não é só estrutura formal, mas é coerência entre quem decide e como se decide”.

Ela também enfatizou a importância de incorporar à gestão princípios de sustentabilidade e inovação. A sustentabilidade, em sua visão, vai além da questão ambiental: envolve responsabilidade social e econômica, garantindo que a instituição seja capaz de cumprir sua missão sem depender excessivamente de recursos externos. Já a inovação torna os processos mais transparentes, eficientes e adaptáveis, fortalecendo a tomada de decisões e a resiliência organizacional.

“A missão se sustenta no tempo quando está acompanhada de uma gestão eficiente e de escolhas responsáveis”, afirma. Também abordou a importância da inovação no contexto atual: “inovar, para nós, é manter o carisma vivo diante das mudanças, é responder aos novos tempos sem perder nossa identidade”.

Ela concluiu destacando que o verdadeiro sentido da governança em instituições católicas é “organizar a gestão em torno da missão”, e que isso só é possível quando se promove “transparência, participação e compromisso com os valores fundantes da instituição”.

“Arriscar é tomar riscos, mas não arriscar pode ser fatal”

Jorge Siarcos, diretor-geral do Grupo Educacional Bom Jesus e reitor da Universidade São Francisco, reforçou que exercer a governança em instituições católicas exige coragem — no sentido profundo da palavra: agir com bravura, inteligência e firmeza de propósito. “Coragem não é tomar decisão inconsequente. A origem da palavra está lá: é uma ação que vem do coração, é agir com bravura, é tomar decisão com inteligência, é ser firme”, explica.  

Para ele, a coragem se expressa em decisões estratégicas como desenvolver pessoas, iniciar novos projetos, investir em tecnologia e manter a identidade institucional mesmo em contextos desafiadores. “Coragem de me posicionar: quem eu sou, meus valores. […] Os valores franciscanos são inegociáveis. Transformamos muito a nossa instituição nesses quase 130 anos, mas os nossos valores permanecem.”

Segundo Jorge, a governança mista — que envolve a atuação conjunta de religiosos e leigos — é uma via eficiente para preservar os princípios fundacionais e, ao mesmo tempo, promover a excelência acadêmica. Ele destacou ainda a comunicação clara e alinhada como um dos eixos estruturantes da governança: quando bem conduzida, ela permite que os valores, decisões e a cultura institucional sejam compreendidos e vivenciados por toda a comunidade educativa.

“A comunicação tem que ser transparente para todos. Não só quem está no nível de gestão, no nível de liderança, mas todos os colaboradores têm que saber qual é a missão da instituição, onde queremos chegar, o porquê que existimos desde a fundação e o que está acontecendo agora”, afirma. “Se alguma decisão tomada em conjunto é respondida de forma diferente por leigo e religioso, quebra esse alinhamento.”

Para equilibrar autonomia e sustentabilidade financeira sem abrir mão da missão, Jorge defendeu modelos como os Conselhos Estratégicos e os Centros de Serviços Compartilhados — especialmente em redes com atuação nacional. Já sobre inovação, reforçou que a espiritualidade franciscana inspira uma educação centrada na pessoa, protagonista de sua própria história e agente de transformação social. 

Por fim, ele conclui trazendo como base nas palavras do Papa Francisco, que a qualidade educacional repousa sobre três pilares: investimento em pessoas, infraestrutura adequada e gestão humanizada. “Em uma gestão humanizada, o protagonista é o ser humano”, conclui.

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