Congresso ANEC

A 3ª mesa redonda do VII Congresso Nacional de Educação Católica, da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, abriu o segundo dia do evento com um tema central e urgente: “Educação Católica Inclusiva: espaço de acolhimento e respeito a todas as pessoas”. A discussão, mediada pelo Pe. Diego Andrade de Jesus Lelis, seguiu o momento de oração e adoração eucarística, e aprofundou o compromisso cristão com a inclusão como missão educativa.

Pe. Diego iniciou destacando que acolher vai além de abrir portas: é abrir a alma, escutar e reconhecer o outro como um mistério sagrado. “Falar em educação católica inclusiva é admitir que ainda temos muito caminho a percorrer”, alertou. A fala provocou o público a refletir sobre os desafios de tornar a escola um ambiente onde ninguém precise esconder sua identidade para existir.

Inclusão além do laudo

Primeiro participante da mesa, o psicólogo Patrick Wagner de Azevedo — doutor em Psicologia, deficiente visual e professor em uma instituição salesiana — trouxe uma crítica direta à seletividade das escolas católicas: “Não consigo compreender que há escolas que se baseiam apenas em laudos. Eu não vejo um laudo, eu vejo pessoas”.

Com um testemunho contundente, Patrick expôs o sentimento recorrente de solidão por ser, com frequência, o único professor com deficiência nos espaços acadêmicos. “Onde estão as pessoas com deficiência? Por que não estão aqui?”, questionou. Ele defendeu uma virada de chave na forma como enxergamos a compaixão. A partir da leitura de Nietzsche, contrapôs a compaixão piedosa que inferioriza à compaixão solidária, que caminha junto, sem decidir pelo outro.

“A inclusão não pode ser um gesto de caridade isolado. Deve ser um ato de reconhecimento da potência que cada um carrega. Ter pessoas com deficiência ou de grupos estigmatizados entre nós amplia a força do coletivo”, afirmou.

Currículo antirracista como expressão de

Na sequência, a professora Rosemary Francisca, doutora em Ciência da Religião, propôs um olhar direto e corajoso sobre o racismo nas instituições educacionais católicas. “O racismo é uma negação da nossa fé. Se cremos que todos são um em Cristo, não podemos normalizar estruturas que silenciam e excluem.”

Defendendo que “ser negro ou negra é um ato diário de resistência”, ela apresentou um plano prático para construção de um currículo antirracista, destacando a urgência de ações, como: formação continuada de professores; revisão dos materiais didáticos; criação de espaços de escuta e participação ativa de estudantes negros; celebração da diversidade no projeto pedagógico; presença de lideranças negras nos quadros da escola.

“Um currículo antirracista é o evangelho encarnado. É o Reino de Deus começando nas salas de aula”, declarou, ao lembrar que a luta contra o racismo não é ideológica, mas profundamente cristã.

Humanizar para transformar

Encerrando a mesa, a pedagoga Suely Menezes, conselheira do Conselho Nacional de Educação, reforçou a importância de articular os princípios da educação católica com os da inclusão, sem perder de vista o cenário atual.

“O mundo mudou. A escola precisa mudar também. Estamos preparando nossos alunos para conviver com o mundo como ele é, com suas tecnologias, complexidades e pluralidades?”, provocou. Para Suely, a dignidade humana é o eixo simbólico que une a missão católica à proposta inclusiva. “A pluralidade não é obstáculo; é a condição real para o desenvolvimento humano e espiritual.”

Ela também enfatizou que o desafio da escola católica hoje é conviver com a diferença: de ideias, culturas, religiões, sexualidades. Segundo a professora, a inclusão está alinhada com os princípios católicos. “Não se trata de tornar as pessoas parecidas, mas de respeitar e valorizar o que cada um é”, afirma.

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