Na quinta mesa-redonda do VII Congresso Nacional de Educação Católica, intitulada “Inteligência artificial e desenvolvimento humano integral: perspectivas éticas, pedagógicas e sociais para uma educação humanizada”, os especialistas refletiram sobre os impactos da IA no contexto educacional, os desafios éticos associados à sua adoção e as oportunidades que essa tecnologia oferece para transformar práticas pedagógicas, sempre preservando a centralidade do ser humano no processo de ensino-aprendizagem.
A discussão girou em torno da importância de uma abordagem crítica, consciente e ética da inteligência artificial, destacando também as novas demandas de formação docente frente às transformações tecnológicas. Fernando Trevisani, consultor educacional, doutor em inteligência artificial e metodologias ativas, mestre em tecnologias digitais na educação e especialista em educação inovadora, trouxe uma análise profunda sobre o papel do educador na era da IA.

Ele alertou para a importância da formação e do papel dos docentes na construção de experiências de aprendizagem que colocam os estudantes no centro do processo, tendo os recursos de IA como aliados dos professores durante o planejamento das aulas. Segundo o palestrante, a inteligência artificial pode ser uma aliada poderosa, desde que os docentes estejam bem formados e compreendam seus limites e potencialidades.
Para ele, a IA é uma ferramenta que, se usada com responsabilidade e intencionalidade pedagógica, pode ajudar a otimizar o tempo do educador e a dar ideias possíveis de serem colocadas em prática, além da possibilidade de contribuir com a avaliação dos estudantes — tornando o processo mais eficaz e alinhado com as suas necessidades. No entanto, alertou que certas dimensões da educação são, e devem continuar sendo, essencialmente humanas: a escuta ativa, o vínculo afetivo, a mediação de conflitos, a criatividade e a formação ética e espiritual.
Trevisani também defendeu a construção de uma cultura de colaboração entre educadores para compartilhar boas práticas com o uso da IA, principalmente nas escolas católicas, onde a valorização da pessoa humana é um pilar. Entre os pontos centrais de sua fala estiveram a importância da formação docente para a elaboração de bons comandos (prompts), o uso da IA no apoio ao planejamento de aulas em metodologias ativas e a necessidade de repensar o modelo educacional vigente, ainda muito pautado pela transmissão de conteúdo.
Limites, riscos e potencialidades da IA no processo educativo

Rosa Maria Vicari, professora titular do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora da Cátedra UNESCO em Tecnologias de Comunicação e Informação na Educação, enfatizou os limites da inteligência artificial atual — ainda baseada em modelos preditivos — e os riscos associados a uma educação excessivamente personalizada. Segundo ela, a IA não consegue operar com raciocínios causais ou contrafactuais e, por isso, ainda está longe de substituir a capacidade humana de criatividade e pensamento crítico.
Vicari alertou para o perigo do isolamento educacional, uma possível consequência da personalização intensiva promovida pela IA, que pode enfraquecer a dimensão coletiva e social da aprendizagem. Por outro lado, reconheceu que a tecnologia pode ser poderosa para nivelar aprendizagens e oferecer suporte individualizado, desde que utilizada com equilíbrio e intencionalidade pedagógica.
Para a pesquisadora, é urgente que escolas e famílias compreendam as implicações do uso da IA na educação e que se promovam reflexões sobre quais competências precisam ser fortalecidas nos estudantes do século XXI. Nesse sentido, Vicari defendeu uma formação integral que mantenha o foco na interação humana e no desenvolvimento das habilidades que a IA não é capaz de replicar.