VI CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DA ANEC

A construção do novo humanismo para o século XXI à luz do Papa Francisco

O Papa Francisco defende a construção de um novo tipo de humanismo no século XXI, em que as pessoas sejam mais humanas e solidárias umas com as outras. A mesa-redonda que aconteceu no sábado (1º/7) no VI Congresso Nacional de Educação Católica recebeu Deivid Carvalho Lorenzo, pró-reitor de Graduação da Universidade Católica de Salvador (UCSal), e Evaldo Palatinsky, professor, consultor pedagógico e coordenador do projeto Fraternidade Sem Fronteiras. 

O pró-reitor da Universidade Católica de Salvador (UCSal), Deivid Lorenzo, revisitou a história do século XX para entender a necessidade de um novo humanismo e do educar para o humanismo solidário. O período foi marcado por uma nova forma de pensar, uma racionalidade fruto do espírito iluminista que nos apresentava uma emancipação da menoridade intelectual. “Diante da  tecnologia, conseguimos enxergar o mundo que está à nossa volta de um modo diferenciado, não apenas contemplando, mas dominando através da tecnologia. A razão se tornou instrumental para que a gente pudesse oportunizar a nossa relação com o meio ambiente, um novo espaço, um espaço de poder. Criamos necessidades a todo instante, para satisfazê-las pelo desenvolvimento tecnológico”, afirma.  

Lorenzo defende que precisamos entender que existe propósito, que nos move a frente, rumando para uma realidade que é feita por todos. “O humanismo que se centra no indivíduo ele não dá conta das dores da humanidade. É preciso de um humanismo que se ponha diante do outro. Uma experiência de alteridade”, diz.  “O desenho do novo humanismo vem para enaltecer a condição do sujeito humano, da pessoa humana, mas não dentro da esfera tipicamente individual. Mas na relação com o outro. E a educação de matriz cristã tem por vocação iluminar essa experiência. É o encontro com o outro, igual a mim apesar de diferente, que me põe em encontro com o Outro. Que satisfaz aquilo que só Ele pode satisfazer dentro de nós”.

O professor defende que estamos em um momento único da história. Para ele, o futuro nunca esteve tão presente como agora. “A vida parece que está mais acelerada e isso traz o futuro muito rápido, para hoje. Ele já chegou”, comenta. “Eu não acredito que o futuro exista. O que eu acredito é que nós temos condições de construir um futuro diferente”. 

Humanismo e o Papa Francisco

Alguns documentos são essenciais para entender a necessidade do novo humanismo proposto pelo Papa Francisco. Entre eles: o Misericordiae Vultus (2015), Laudato Sí (2015), Amoris Letitia (2016) e a Fratellli Tutti (2020). 

O palestrante também aponta que os educadores devem ocupar os espaços para promover o humanismo. “Percebemos a emergência da substituição de um humanismo decadente, fundado no paradigma da indiferença, por um humanismo solidário. Um novo modo de educar. Uma educação humanizada”, afirma. Nesse sentido, a congregação para a educação católica aponta algumas pistas nesse caminho. “São elas a cultura do diálogo, globalização da esperança e a criação de redes de cooperação. Três pistas que estão articuladas ao sociopedagógico para entendermos os lugares que ocupamos, mas que conversam entre si”. 

Diante do cenário, o professor propõe duas conclusões que servem de pistas para o novo humanismo para um novo século. “O primeiro é o paradigma da diferença, com a cultura do diálogo, na esfera do multiculturalismo.  Ser diferente não é ser o oposto. É ser igual a mim, porque todos nós trazemos conosco a mesma essência da unidade, só a expressamos de modo diferente”, diz. “E a segunda provocação vem também pelas mãos da linguagem, que é o desejo. Aquilo que nos move como diferentes, aquilo que temos igual e só expressamos de modo múltiplo e distinto. É algo que não é preenchido por nenhum bem de consumo ou por nenhuma necessidade. É sentir falta de uma completude, que pode ser expressa de um modo diferente pelo outros. É o que nos põe à frente, sempre olhando para aquilo que não há limite”. 

Humanismo solidário

O professor Evaldo Palatinsky compartilhou com todos os participantes a sua experiência de voluntariado em um campo de refugiados no Malawi, na África. Palatinsky conta que a concepção de refugiado não é diferente do imigrante ou do migrante. Todos tiveram que deixar a sua terra natal por algum motivo. O palestrante defende que é preciso “quebrar as paredes” da escola, para que os alunos coloquem a mão na massa e realizem um trabalho de voluntariado. “Para que os jovens se tornem cidadãos globais, solidários e fraternos”, afirma. “Quando a pessoa tem um propósito ou um desejo, ele se torna maior do que qualquer obstáculo que você tenha”.

O jornalista conta que dentro do campo de refugiados no país africano foi criada uma escola para as mais de 12 mil crianças, mas que apenas 200 poderiam atender às aulas. Naquele cenário, ir à escola já era um enorme privilégio, além disso a instituição também oferecia duas refeições para os alunos que muitas vezes só tinham acesso a uma. “A educação pode fazer a diferença, a escola aqui antes de ser um local de excelência acadêmica é um espaço humanitário onde as crianças se alimentam e estão protegidas. Há muito que se fazer. A educação planta sonhos e pode transformar essa realidade”.

Segundo o Pontífice, “para educar é necessário integrar a linguagem da cabeça com a linguagem do coração e a linguagem das mãos. Que um educando pensa o que sente e o que faz, sinta o que pensa e o que faz, e faça o que sente e o que pensa”. “Os nossos estudantes precisam colocar a mão na massa. Hoje, não dá para falar de humanidade sem que os alunos se posicionem depois de viver uma experiência de imersão profunda como a do voluntariado”, finaliza.