VI CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DA ANEC

Mesa-redonda aborda o futuro e as lideranças da educação católica

O olhar para o futuro da educação foi tema de mesa-redonda durante o VI Congresso Nacional de Educação Católica. Promovido pela Associação Nacional de Educação Católica (ANEC), na manhã do dia 30 de junho e mediado por Ricardo Mariz, diretor socioeducacional do Marista Brasil, o evento recebeu Paulo Barone, doutor em Física e professor universitário; Mariângela Risério, mestra em Gestão Educacional e gestora educacional; e Francisco Morales, filósofo, teólogo e gestor educacional para debater qual o lugar da universidade no futuro, inovação nas escolas católicas e lideranças criativas e sustentáveis. 

Qual é o lugar da universidade no futuro?

O professor Paulo Barone aponta que é difícil responder qual é o lugar da universidade do futuro pois, a princípio, as pessoas tendem a pensar de maneira imediatista, pensando nas questões do cotidiano de gestão acadêmica e que afligem a todos ou avaliando de acordo com coisas que ocorreram no passado, sem levar em conta eventos inesperados ou contextos inovadores que podem ocorrer. “Eu prefiro olhar para os fundamentos e tentar extrair deles algo que possa ser útil para que nós conheçamos a essência do problema e possamos projetar os fenômenos futuros com base nela”, comenta. “A essência de discutir o futuro é discutir que papéis a universidade desempenha e por tanto, a partir disso, estabelecer uma espécie de reflexão que possa ser útil, mas que certamente não será um guia que nós poderemos usar de forma desatenta. Muito pelo contrário, precisamos nos conectar com elas”. 

Para o professor, a universidade do futuro precisa aprofundar sua conexão com a sociedade, compartilhar suas características próprias e essenciais com outros atores sociais, diversificar os seus programas acadêmicos, constituir um ambiente de fomento e de formação para atributos de natureza humanista  e democrática e também valorizar as questões de natureza administrativa ligadas à eficiência do trabalho, qualidade da oferta do produto, solidez organizacional, sustentabilidade financeira e outros. “A universidade é uma concentração de competências em relação a qualquer outro ambiente social, e por tanto ela tem que exercer um papel de contribuição decisiva para as políticas públicas e para o desenvolvimento notadamente no nível local e regional”, diz. “Constituir um ambiente não exclusivo de formação que precisa dialogar muito com a sociedade e ao mesmo tempo adaptar a sua agenda e seus processos para que esse compartilhamento seja real, não seja apenas um enunciado”, finaliza. 

Inovação nas escolas católicas: como, para que e para quem?

Mariângela Risério aponta que ao pensar em inovação não podemos esquecer da educação. “Essa é a palavra-chave, o nosso DNA. Quando pensamos nela, pensamos na escola que queremos”, afirma. “Para nos perguntarmos sobre o futuro, precisamos primeiro refletir sobre a educação e o espaço que ela ocupa nas nossas instituições”. A gestora afirma que a inovação dentro das escolas acontece todos os dias quando existe uma uma política de formação docente, com currículos sendo construídos coletivamente, com uma nova cultura organizacional e dentro de uma vivência democrática. “Para promover a inovação precisamos de equipes docentes sólidas, redes de intercâmbio e cooperação, propostas inovadoras dentro de um contexto, clima ecológico e rituais simbólicos e a institucionalização da inovação, que são parte da vida, da dinâmica e do funcionamento”. 

Inovar é renovar propósitos e assumir um compromisso ético. Segundo Risério, a inovação acontece para tornar a escola mais democrática e participativa; para fortalecer o bem-comum; para promover um ethos colaborativo e estabelecer um novo contrato social para a educação; e para que os jovens tenham um futuro. Além disso, ela é voltada para o futuro das infâncias e juventudes e para uma nova cidadania, intercultural e crítica. “Não é possível pensar em inovação sem pensar na educação que nós queremos, na escola que nós sonhamos, que é tecida dia a dia com todos nós. Cada um é uma usina de ideias, uma usina de inovações e a escola é uma grande laboratório didático, de experiências. Basta que a gente queira”, finaliza. 

Liderança criativa e sustentável: horizontes da educação católica

Francisco Morales começou a última fala da mesa-redonda questionando se atualmente, em um mundo mais automatizado, precisamos de líderes e liderança. “Se nós quisermos liderar, nós precisamos enxergar a trilha que devemos seguir e fazer isso com paixão, conhecimento e compaixão”, afirma. “O importante não é convencer o outro, o importante é o diálogo”.  O gestor educacional aponta que é preciso entender que a sociedade é complexa, desigual e desafiadora. Ele também defende que o ponto central da liderança que precisamos é baseado no mandato e na pedagogia de Jesus, com um novo olhar, escuta, lucidez no pensar e no sentir, uma nova intelecção do mundo entre as pessoas e uma bioliderança. “Liderar, por tanto, é gerir a vida e gerar vida – na instituição, nas pessoas, nos grupos. Promover nas instituições uma nova mentalidade, novo conhecimento e ação. A liderança propõe, implanta e realiza. É uma liderança humanista, de serviço, de encontro, inclusiva, criativa, espiritualizada e do afeto”. 

As características esperadas para essa liderança são: consciência crítica, adaptabilidade, competência testada e humanidade comprovada. “Que desenvolvam em si mesmos autoconhecimento, autorregulação, conhecimento social, habilidades sociais e espiritualidade própria. E que tenham clareza e foco nos seus objetivos estratégicos pessoais, da instituição e da comunidade escolar e religiosa”, ressalta. “Além de uma consciência inclusiva e planetária. Nós vivemos em um mundo mais humano. Uma consciência espiritual e do cuidado, e que pratique o silêncio, a meditação e a indisponibilidade. E que também possua capacidade argumentativa e negociadora e que seja uma pessoa agregadora e promotora dos outros e do trabalho em equipe”, finaliza.