VI CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DA ANEC

Reimaginar o futuro da educação juntos é tema de conferência de encerramento do Congresso

O futuro da educação é indissociável da tecnologia. Aliado aos recursos digitais, será necessário investir na inovação social e pedagógica, bem como repensar o papel dos professores e dos alunos para ir além da formação intelectual e promover desenvolvimento integral do ser humano. Para reimaginar esse cenário juntos e discutir o ensino do amanhã, a última conferência do VI Congresso Nacional de Educação Católica 2023 recebeu, na tarde de sábado (1º/7), Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação. A conversa foi mediada pela Irmã Adair Aparecida Sberga, Vice-Presidente da ANEC.

Para Cristovam, o futuro da educação perpassa a alfabetização para a contemporaneidade. “Esse conceito inclui uma formação integral em que as crianças precisam ser ensinadas a entender e solidarizar-se com o mundo para que elas possam ajudar na construção de um futuro melhor a partir das potencialidades do nosso país”, explica. “Nós, como educadores, precisamos ensiná-las a deslumbrar-se e emocionar-se com outros seres humanos, também com os animais e as nossas florestas – uma grande preocupação atual”, acrescenta. 

Segundo o especialista, enfrentamos várias brechas desafiadoras para alfabetizar para a contemporaneidade, como: desigualdade social, diferença entre a qualidade educacional no Brasil frente ao resto do mundo e a necessidade de um aprendizado cada vez mais rápido e ampliado na era da informação. “Não basta saber ler sem conseguir contextualizar as informações ou apenas compreender um único idioma ou, ainda, saber somar, multiplicar ou dividir, sem compreender a lógica e as leis matemáticas. Para além disso, a contemporaneidade anda mais depressa do que a nossa educação e isso exige que saibamos além e que estejamos preparados a aprender e continuar a aprender depois de ter aprendido. Conhecimento passou a exigir prazo de validade nas técnicas, mas não nos valores morais”, alerta. “Mais ainda, é preciso também que as pessoas aprendam para buscar a sua felicidade. Para que elas possam ajudar na construção de um mundo melhor”, diz.

Nessa linha, ele defende que a educação precisa ser de máxima qualidade para todos e critica a grande discrepância existente entre o ensino dos ricos e dos pobres. “A humanidade precisa que todas as crianças tenham a mesma educação. Uma única pessoa sem ensino é uma grande tragédia para toda a humanidade, pois o que vai iluminar o futuro, construir igualdade e justiça é a educação”, afirma. “Não basta somente acompanhar o número de matrículas. Precisamos pensar também na permanência, na assistência e no aprendizado”, reflete.  

Professores precisam se adaptar

Buarque explica que, para atuar pela alfabetização da contemporaneidade, o docente também precisa se adaptar. “Até então, o professor era como um ator de teatro: entre o quadro negro e os alunos representando o seu show. Agora, o educador que quiser realmente encantar os discentes deverá tornar-se um roteirista e diretor de cinema. Ele deverá trazer para a sala de aula aquilo que ele fala e, para isso, utilizar as ferramentas digitais como aliadas para aproximar o conteúdo do estudante, dirigindo o conhecimento. Ele precisará da assessoria de outros especialistas para manusear os equipamentos, assim como no cinema, em que não são os atores que editam as filmagens ou aplicam os efeitos especiais nos filmes. E, tudo isso, de maneira interativa, envolvendo o estudante. A escola não pode mais ser somente salas de aulas com quadros negros”, pontua. 

Cristovam ressalta a importância da temática da conferência da ANEC em refletir sobre o futuro da educação. “Estamos debatendo um assunto fundamental para qualquer sociedade e toda a humanidade. É importante que todos falem sobre, mas, principalmente, que o assunto seja refletido entre nós que participamos ativamente deste processo. O futuro do mundo está no futuro que dermos a educação e o seu alicerce é a escola”, acredita. “A tecnologia e o ensino remoto jamais substituirão a relação direta entre professores, alunos e suas relações interpessoais”, avalia.