VI CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DA ANEC

Educar para a Cidadania Global foi tema de conferência do evento

A tarde do primeiro dia (29/6) do VI Congresso Nacional de Educação Católica, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica, foi marcada pela conferência Educar para a Cidadania Global: caminhos do desempenho para o engajamento. Mediada pelo professor e vice-presidente do Conselho Superior da ANEC, Germano Rigacci, e ministrada pelo Pe. José Miguel Fraga Cardoso, o evento abordou a importância do papel dos educadores na formação das pessoas e a história de Jesus Cristo de um ponto de vista pedagógico. 

Ao início do evento, o professor Rigacci pontuou que o tema que norteia o Congresso, Transformar o presente e tecer o futuro,  traz na sua mensagem o conceito de tecer. “Educar é um ato de esperança e, quando nós tratamos de esperança, nós olhamos sempre para o futuro. E quando pensamos em tecer o futuro, pensamos nos tecelões e tecelãs, nas rendeiras, nas bordadeiras e no seu trabalho. E esse ato expressa todo o sentido do ato de educar – sensibilidade, imaginação, instrumento, habilidade e mãos”, afirma. “Tecer o futuro é trabalhar com o coração, com a mente e com as mãos. E, nesse sentido, o tema da conferência nos vincula ao que o Papa Francisco anunciou como Pacto Educativo Global. Não podemos deixar de pensar na cidadania global sem pensar na centralidade de um dos compromissos que é formar a pessoa humana, e formá-la na plenitude, para paz, justiça e para um mundo mais fraterno”. 

José Miguel iniciou sua fala apontando que a palavra-chave da conferência é “agradecer”. Agradecer o trabalho árduo que é realizado pelos educadores diariamente. “Desenvolvemos uma educação nas razões mais nobres e ensinamos as pessoas a compartilharem suas experiências e conhecimentos”, afirma. Ele também aponta que não é possível mudar a educação, sem mudar o estilo de educar. Para José Miguel é fundamental lembrar da raiz básica da  educação católica e que muitas vezes é ignorada: é preciso olhar para Jesus Cristo de um modo mais pedagógico e menos milagreiro. 

O palestrante dividiu a sua apresentação em dois momentos: em primeiro, redescobrir a raiz da diferença de uma educação católica e, segundo, articular os princípios pedagógicos de Jesus com o Pacto Educativo Global, de modo a potenciar progressivamente a educação para a cidadania. 

Jesus como aluno e mestre

O palestrante aponta que Jesus Cristo, antes de se tornar mestre, foi aluno e, antes de ensinar, aprendeu. “É curioso ver na bibliografia de Jesus que ele formou-se por 30 anos para ser formador por apenas três”. José Miguel aponta que a formação de Jesus resume-se à frase “E crescia Jesus em sabedoria e em estatura e em graça para com Deus e os homens” (Lucas 2:52). “Ou seja, Jesus não tem uma formação qualquer, mas sim uma formação que engloba as dimensões física, espiritual e intelectual”, diz. “Os seus principais formadores foram os seus pais, Maria e José, que introduziram a ele as dimensões da educação doméstica, prática, religiosa e afetiva. A formação paternal de Jesus não é apenas teórica, mas também prática. E não é uma formação individual, mas sim social. E por isso temos que reiterar com toda certeza dogmática que a formação de Jesus é integral”. 

Aos 30 anos, Jesus iniciou a sua história como formador. E, nesse sentido, vale ressaltar três aspectos, como: Jesus oferece uma educação para todos, sem exclusão; educa para transformar vidas; e educa para o limite. “A formação de Jesus  faz das experiências de vida uma forma de aprendizagem que complementa a teoria. Caso contrário a nossa teoria se torna uma utopia”. 

Nesse sentido, vale ressaltar que há outro formador na vida de Jesus: Deus, o seu Pai do céu, de acordo com o evangelho de João. E ele mostra que a formação não acaba ao fim de algum curso, ela é permanente, para toda a vida, como demonstra Jesus. “Dessa forma chegamos a duas conclusões, a primeira é que ninguém pode educar sem se formar previamente e permanentemente. E segundo, ninguém aprende apenas por si próprio, mas aprendemos também com os outros e cada um de nós é responsável pela educação daqueles que nos rodeiam”.  

Princípios pedagógicos de Jesus

Segundo José Miguel, Jesus nos deixou algumas indicações táticas e estratégicas para aplicar o Pacto Educativo Global. São elas: colocar a pessoa no centro; escutar as gerações mais novas; promover a mulher; bem-aventuranças da filiação; abrir-se ao acolhimento; renovar a economia e a política; e cuidar da casa comum. “As dicas surgiram a  partir de uma leitura crítica dos riscos pedagógicos da nossa sociedade. Nós então confrontamos esses riscos com a vida concreta de Jesus e, por fim, apontamos alguns desafios pedagógicos para serem aplicados de modo mais concreto”. 

O que é mais importante no processo educativo: ensinar coisa ou ensinar a viver as coisas? Segundo o palestrante esse é o grande desafio da educação de hoje. “Jesus encarnou nesse mundo para nos ensinar a viver”, afirma. “Não viemos aqui ensinar nada a ninguém, queremos apenas aprender e agradecer a suas mãos. Porque são elas que educam os jovens de hoje”. 

Ao final, José Miguel deixou um questionamento para o público presente. “Se um aluno seu não tiver um lápis para escrever, você é capaz de quebrar o seu lápis ao meio e dar a outra metade para ele?”.

Saudações

Por motivos pessoais, Dom José Tolentino de Mendonça não pôde participar do VI Congresso Nacional de Educação Católica. Entretanto, o Cardeal não ficou de fora do evento e enviou um vídeo com uma saudação para os participantes do evento. 

Durante a breve fala, o Dom Tolentino falou sobre o papel dos educadores. “A tarefa do educador não é transmitir saberes, é criar no educando a possibilidade de ser protagonista de uma aventura humana integral, onde o saber e o conhecimento tem de fato um papel vivo”, afirma. “Por isso, é importante que o educador seja honesto quanto ao seu desejo de educar e saiba interpretar bem a pessoa humana e a conheça, para criar nela, não apenas uma colagem de conceitos, de ideias, mas que ela possa acolher a experiência integral do conhecimento”. 

O Cardeal afirma que o papel do educador não tem um ponto final. “No máximo, tem vírgula, dois pontos, hífen ou travessão, mas o ponto final, não. Porque é sempre uma construção”, aponta. Ele também comparou o trabalho diário realizado pelos educadores com uma história de amor. “A semântica do amor é algo próximo ao que se aproxima da experiência na tarefa educativa”, afirma.